“Quando um regime começa a temer a voz de um homem reformado, é porque já não governa as consciências, apenas gere o medo. Este texto não é somente sobre um general, mas sim sobre o despertar de uma nação, a crise ética do poder e o confronto entre a verdade e o silêncio imposto.”

 

O General Manuel Paulo Mendes de Carvalho, conhecido como PAKAS, mesmo após a sua passagem à reforma, continua a causar mais trabalho ao poder do que muitos que permanecem confortavelmente instalados nos arquivos do Estado, num silêncio cúmplice e numa obediência conveniente. Há homens que, quando se reformam, desaparecem; e há outros que, ao reformarem-se, começam verdadeiramente a servir o povo. PAKAS pertence a esta segunda categoria. Ele já não empunha armas, mas sim algo que o regime teme ainda mais: a palavra consciente, a memória viva e o profundo conhecimento do sistema. Como alguém que conhece o labirinto por dentro, sabe onde estão as saídas falsas, as paredes pintadas de esperança e os becos sem saída para onde o povo foi sendo empurrado desde 1975. Ao falar, ele não inventa; revela. Ao criticar, não destrói; desperta. E é precisamente isso que incomoda: quem desperta consciências ameaça sistemas que dependem da letargia coletiva. Platão já alertava, na alegoria da caverna, que aquele que emerge da escuridão e regressa para relatar a verdade corre sempre o risco de ser atacado pelos que preferem as sombras. PAKAS é hoje esse homem que voltou da luz para avisar os que ainda estão presos às correntes da ilusão.

 

PAKAS toca na consciência do povo como quem acende uma lamparina numa casa escura. Cada palavra sua abre uma fresta de luz, cada denúncia levanta um véu, cada crítica obriga o cidadão comum a questionar: “Por que vivemos assim, num país tão rico?” O regime sabe que as verdades, quando proferidas por quem conhece o sistema por dentro, possuem um peso diferente. Não são boatos de rua, são testemunhos de quem esteve na sala de comando. Por isso, PAKAS incomoda mais do que muitos generais no ativo: porque ele não depende de promoções, não espera favores, não teme represálias materiais. Ele fala com a liberdade de quem já cumpriu a missão institucional e agora responde apenas à sua consciência e ao seu povo. Max Weber, ao discorrer sobre a ética da responsabilidade, recordava que o verdadeiro líder é aquele que assume as consequências morais das suas palavras. PAKAS fala sabendo o preço, mas fala ainda assim. Como na parábola do velho sábio que vê o incêndio aproximar-se da aldeia e grita para alertar os outros, PAKAS grita não por vaidade, mas por responsabilidade. E o poder, como sempre, prefere silenciar o mensageiro a apagar o fogo.

 

É precisamente por conhecer o regime profundamente — os seus estratagemas, os seus receios, as suas estratégias e as suas fragilidades — que PAKAS se torna mais perigoso do que muitos que ainda se apegam ao sistema. Ele sabe onde o discurso não coincide com a prática, onde a Constituição protege o poder e não o cidadão, onde a lei é usada como escudo para uns e como armadilha para outros. Por isso, o governo faz tudo o que está ao seu alcance para silenciá-lo: intimidação jurídica, perseguição política, tentativas de enquadramento legal forçado, inclusive recorrendo a constituições estrangeiras, como quem procura uma chave errada para uma porta que não lhe pertence. Pierre Bourdieu explicava que o poder simbólico funciona melhor quando é invisível e aceite como natural. PAKAS rompe essa invisibilidade: ele desvenda o truque, mostra os fios, expõe o palco. Quando um Estado precisa importar ideias punitivas para calar um cidadão, revela não força, mas fraqueza. Revela que a sua própria Constituição não serve o povo, mas apenas o poder. Pergunta-se então: que tipo de regime precisa caçar um velho general reformado porque teme as suas palavras?

 

O povo precisa estar alerta. Muito alerta. Porque o que hoje acontece com PAKAS já aconteceu e continua a acontecer com muitos outros angolanos, de diversas formas, desde 1975. O método muda, o objetivo permanece: silenciar, cansar, confundir, dividir. O governo conduziu o povo para um beco sem saída, prometendo sempre uma porta que nunca se abre. Como na parábola do homem que promete água no deserto e leva o povo a caminhar eternamente atrás de miragens, o regime mantém a população em espera contínua, enquanto a riqueza do país se concentra em poucas mãos. Hannah Arendt advertia que os regimes autoritários não sobrevivem apenas pela violência, mas pela banalização da injustiça e pela normalização do absurdo. Quando surge alguém que aponta o mapa verdadeiro e diz “o caminho não é esse”, torna-se imediatamente um problema. Por isso, proteger PAKAS é mais do que defender um homem; é defender o direito de o povo saber a verdade, é proteger a consciência coletiva contra o apagão moral imposto pelo poder.

 

PAKAS é hoje como um espelho que o regime evita olhar. Um espelho não acusa, apenas reflete. E o reflexo que aparece não agrada. Ele fala da incompetência do governo, das políticas desencontradas, da ausência de rumo claro, da desilusão profunda com um poder que prometeu renovação e entregou continuidade disfarçada. Falou tão claramente que chegou a apelar ao voto na UNITA, o maior partido da oposição, aquele que mais se aproxima de disputar o poder em pé de igualdade. Esse gesto, livre e legítimo, foi entendido pelo regime como uma afronta máxima. Porque quando um homem que conhece o sistema diz ao povo “há alternativa”, o castelo do medo começa a rachar. Frantz Fanon ensinava que o colonialismo e os seus herdeiros internos teme mais o homem consciente do que o homem armado. É por isso que o querem anular, encurralar, silenciar. Mas a história ensina: quando um sistema começa a temer palavras, é porque já perdeu a razão.

 

Por isso, com lucidez e responsabilidade, é preciso dizer: PAKAS carece de proteção. Não com armas, mas com consciência. Não com violência, mas com vigilância cívica. Ele é um sino que toca enquanto ainda há tempo, um sentinela que avisa antes da queda do muro. E se o regime insiste em calar vozes como a dele, é sinal de que tem muito a esconder. Que o povo esteja desperto. Que o povo questione. Que o povo não aceite mais viver num beco sem saída. Porque regimes passam, mas a verdade permanece. Kant dizia que o esclarecimento começa quando o homem tem coragem de usar o próprio entendimento. PAKAS convida o povo angolano exatamente a isso.

 

É NOSSO, PAKAS, GRANDE GENERAL.

 

Henda Ya Xiyetu

Criador de Opinião | Opinion Maker | Créateur d’Opinion .

 

“As opiniões expressas são pessoais e visam provocar reflexão crítica e construtiva sobre temas que impactam nossa sociedade.“

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