Sexta-feira 19 foram detidos 68 indivíduos entre chineses e vietnamitas por fortes indícios de crimes como lenocínio, exploração sexual de menores, cárcere privado e transgressões migratória (apreensão de 52 passaportes e 4 cartões de residência).
REDAÇÃO PORTA NZINGA
Testemunhas e casos confirmados de exploração sexual, trabalho escravo e tráfico
Luanda, 22 de Julho de 2025 – uma investigação jornalística com base em fontes oficiais e testemunhos de vítimas revela um quadro alarmante de exploração humana dentro do centro comercial Cidade da China, em Viana. As denúncias envolvem crimes de exploração sexual de menores, tráfico de pessoas, trabalho escravo, tráfico de drogas, além de indícios de corrupção estrutural.
Operação de 19 de Julho
No dia 19 de Julho de 2025, o Serviço de Investigação Criminal (SIC), em parceria com o Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), cumpriu mandados judiciais no interior do Hotel Bay Day, dentro do complexo.
Foram detidos 68 cidadãos estrangeiros (chineses e vietnamitas) por fortes indícios de crimes como lenocínio, exploração sexual de menores, cárcere privado e transgressões migratórias (apreensão de 52 passaportes e 4 cartões de residência).
As vítimas tinham entre 17 e 23 anos e eram mantidas sob vigilância, sem liberdade de movimentos. Os detidos serão apresentados ao Ministério Público para os procedimentos legais.
Casos anteriores e contexto histórico
Antes dessa operação, o SIC já havia desmantelado diversas redes semelhantes em Luanda:
Em Maio de 2023, uma rede de chineses e vietnamitas atuava a partir de uma residência no Zango‑0, mantendo cidadãs vietnamitas em condições de tráfico humano, prostituição forçada e venda de drogas. Uma operação inédita dirigiu-se especificamente contra essa organização transnacional.
Em Setembro de 2023, o SIC resgatou 13 cidadãs vietnamitas mantidas em cativeiro, obrigadas a se prostituir com seus compatriotas.
Em Março de 2023, durante a Operação Regresso, foi preso nas imediações do casino um cidadão chinês acusado de tráfico humano e lenocínio. As vítimas, mulheres com idades entre 31 e 44 anos, tiveram os passaportes retidos e foram confinadas em quartos do hotel, recebendo remuneração fixa de Akz 500.000/mês mediante coerção. Foram apreendidos preservativos, seringas, passaportes e objetos eróticos.
Em julho de 2024, a IGT lançou a Operação Trabalho Digno no local, acompanhada de várias instituições: INSS, AGT, SME, SIC e Policia Nacional, para inspeção trabalhista. A fiscalização detectou condições laborais precárias em centenas de lojas, excesso de jornada, falta de equipamentos de proteção, ausência de licenças disciplinares e salários abaixo do mínimo legal.
Testemunhos de vítimas e trabalhadores
Várias testemunhas concordam em retratar uma realidade angustiante:
Damião Simão, 29 anos, ajudante de vendas, conta que dorme na rua porque os salários (entre 50 a 80 mil kwanzas) não cobrem transporte diário até sua casa. Ele diz: “Ficamos aqui porque vivemos longe e com o que ganharmos não dá para ir e vir.”
Euclides Fernando, outro trabalhador, descreve que falta folga, feriados ou fins de semana, e qualquer ausência ou doença resulta em cortes salariais. “Para os patrões chineses o que conta é estares na hora às 07h30 e trabalhares. Se ficares doente… és descontado sem contemplações.”
Esses relatos evidenciam uma prática sistemática de exploração laboral, sub-remuneração, ausência de contratos e condições degradantes que caracterizam trabalho escravo moderno.
Panorama Nacional: Exploração sexual e falhas institucionais
Em 2024, Luanda liderou o número de casos de violação sexual de menores, com 394 casos registrados entre os 1.510 casos nacionais, segundo o Instituto Nacional da Criança (INAC). Um número preocupante envolve agentes da autoridade entre os acusados.
O país figura como “Nível 2” no Trafficking in Persons Report, o que aponta falhas na investigação policial, no acesso à justiça e na proteção efetiva das vítimas. Menores representam quase metade dos casos de tráfico documentados.
Síntese dos crimes apurados
Tipo de crime evidências no caso “Cidade da China”
Exploração sexual de menores, detenção de vítimas entre 17 e 23 anos em situação de coerção
Cárcere privado / tráfico humano apreensão de documentos, confinamento e controle de movimento
Tráfico de drogas Uso de drogas e seringas apreendidas nas operações anteriores
Trabalho escravo e violação laboral, dormir nas ruas por salário insuficiente e ausência de contrato
Corrupção e subornos Tentativas documentadas de suborno pela estrutura comercial
Impunidade institucional Muitos casos não judicializados e falhas recorrentes em fiscalização
Apelo urgente à ação integrada das autoridades
As evidências apontam para um sistema organizado e sofisticado de crime, que envolve recrutamento, retenção documental, confinamento, violência psicológica, exploração sexual, laboral e tráfico de entorpecentes. O quadro é potencializado pela conivência parcial de agentes públicos e omissão institucional.
A sociedade civil e as entidades de defesa dos direitos humanos exigem:
Investigação aprofundada e transparente dos envolvidos, incluindo gestores do centro;
Revogação imediata de licenças de estabelecimentos cúmplices;
Fortalecimento da proteção às vítimas, com acolhimento humanizado e acesso legal;
Fiscalização trabalhista contínua, com aplicação efetiva das penalizações;
Cooperação interinstitucional para derrubar a estrutura de conivência e impunidade.
