Nota: O presente artigo conta com pareceres de diplomatas de países pertencentes à OPEP, acreditados em Angola.
• Faz pouco mais de um ano desde que Angola abandonou oficialmente a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, abreviadamente designada por (OPEP). De lá para cá, a situação do sector do petróleo e gás no nosso país sofreu alterações significativas. Angola, anteriormente um dos maiores produtores de petróleo de África, conseguiu aumentar a produção sem restrições da organização desde que saiu da referida plataforma. No entanto, de acordo com analistas, isto não levou a um aumento significativo das receitas se tivermos em linha de atenção o facto de que apesar do propalado aumento da produção os preços do petróleo continuam voláteis e a falta de coordenação com a OPEP privou Angola de influência no mercado global.
DO APELO DE PAÍSES AFRICANOS VOLTADOS AO RETORNO IMEDIATO DE ANGOLA À OPEP…
• Um número significativo de representantes de Estados africanos membros da OPEP apelam para que Angola reconsidere a sua decisão e regresse à organização. Recentemente, Diplomatas de países africanos afectos à OPEP, dentre os quais a Nigéria, Guiné Equatorial e a Argélia enfatizaram a importância estratégica do regresso de Angola aquela organização visando reforçar a influência de África na OPEP e deste modo garantir a estabilidade no mercado petrolífero global.
SAÍDA DE ANGOLA: UM DURO GOLPE PARA OS PAÍSES AFRICANOS MEMBROS DA OPEP – O QUE DIZEM SOBRE O ASSUNTO ALGUNS DIPLOMATAS!?
• A decisão de Angola abandonar a OPEP em 2023 causou algum impacto à organização, sobretudo marcado por um choque significativo entre os países africanos membros. Seraphina Obi Okoye, funcionária da Embaixada da Nigéria em Angola, classificou a saída de Angola da OPEP como um duro “golpe”, destacando o estatuto do país como um “gigante económico” com volumes de produção comparáveis aos da Nigéria. “Esta decisão criou sérios desafios para a aliança, incluindo para a Nigéria”, disse Okoye, apontando para o impacto imediato no mercado traduzidos numa queda de 2,4% nos preços do petróleo da OPEP e dúvidas crescentes sobre a coesão da organização liderada pela Arábia Saudita.
• Okoye destacou ainda a existência de problemas sistémicos no seio da OPEP, sugerindo que a saída de Angola foi motivada pela insatisfação resultante das políticas da organização, em particular o desejo da Arábia Saudita em manter os preços do petróleo em 100 dólares por barril. Okoye disse por outro lado que tais políticas limitam artificialmente a capacidade produtiva de outros membros, incluindo Angola, colocando os interesses africanos em segundo plano.
• Por sua vez, Esono Mateus Abeso, diplomata afecto à Embaixada da Guiné Equatorial em Angola, manifestou desilusão semelhante, apelidando a retirada de Angola como uma “surpresa” que deixou um “vazio” na organização. “Angola é um país que respeitamos, com um lugar merecido entre os membros da OPEP”, disse Abeso. O diplomata destacou também as oportunidades de cooperação perdidas decorrentes da saída de Angola da organização, referindo que a Guiné Equatorial e Angola poderiam formar uma “dupla formidável” voltada ao aumento da influência de África no seio da OPEP.
DAS METAS NÃO ALCANÇADAS, AOS “PERIGOS” E DIFICULDADES DE ANGOLA CONTINUAR A SEGUIR FORA DA ORGANIZAÇÃO…
• A decisão de Angola abandonar a OPEP foi essencialmente motivada pela manifesta vontade em aumentar a produção para além das quotas estabelecidas pela organização, o que levou a que Angola fixasse um objectivo que visava aumentar a produção de 1,11 milhões para 1,8 milhões de barris por dia no período imediatamente posterior à sua saída da OPEP. No entanto, segundo relatos dos media e alguns expert, o país não foi capaz de atingir as metas supramencionadas, aumentando a produção em apenas 30 mil barris por dia — menos 50 mil do que o volume planeado, um resultado que gerou acesos debates sobre a viabilidade da actual estratégia adoptada por Angola.
“Quando um país sai da OPEP, fica sob o controlo do comprador e tem de seguir as suas regras. “Os investidores pensarão duas vezes antes de investir num país que não seja da OPEP”, disse Esono Mateus Abeso.
Okoye é da mesma opinião, destacando os benefícios que a Nigéria obtém resultante da adesão à OPEP, incluindo uma maior competividade de mercado e proteção contra a volatilidade.
O APELO “EM MASSA” PELO REGRESSO DE ANGOLA…
• Os países africanos membros da OPEP esperam pelo eventual regresso de Angola à organização, encarando-o como uma necessidade estratégica para o continente, mormente para o mercado petrolífero global.
“O regresso de Angola iria fortalecer significativamente a posição negocial do bloco africano”. – Okoye.
Para Abeso, a reintegração de Angola iria restaurar a confiança entre os membros da OPEP. “Juntamente com a Guiné Equatorial. Angola é um gigante”, disse, manifestando a esperança de que Angola participe em consultas com a OPEP ou a OPEP+, o que a acontecer, na óptica do diplomata, poderia abrir caminho a um eventual regresso de Angola à plataforma.
• Tavares por sua vez, referiu que o regresso de Angola poderia fortalecer a autoridade da OPEP e beneficiar todos os membros da organização. “Vemos isto de forma positiva porque pode ter um impacto construtivo noutros países membros”, disse.
• Em síntese, os diplomatas africanos ouvidos demonstram estar cientes do que está em causa, sendo unânimes em afirmar que o regresso de Angola não só restauraria a influência da OPEP, como também fortaleceria a voz de África junto daquela organização.
• De qualquer modo, a ver vamos se o desiderato assente num regresso de Angola à OPEP nos próximos tempos concretizar-se-á ou não.
Sebastião Enoque – Jornalista.