O primeiro secretário provincial do MPLA em Luanda Manuel Homem afirmou no sábado passado, num acto de massas do partido MPLA, que “o tempo da UNITA acabou em Luanda”.
É uma mensagem muito forte, do ponto de vista político-social. Marcou também a semana.
Para alguns, Manuel Homem está a ser demagogo – a julgar pelo cada vez mais baixo nível de vida dos angolanos, escassez de emprego e de oportunidades, para além de uma desvalorização gritante do kwanza, provocando uma queda na aquisição de bens e serviços – para outros, o também governador da Província de Luanda está a ser muito optimista em função da dinâmica do seu trabalho e por ser “jovem”.
Os dois lados podem ter razão: Manuel Homem pode estar a ser demagogo ou pode estar a ser realista.
Se o MPLA conseguir reduzir significativamente o nível depreciativo de vida em Luanda, em todos os aspectos, e a JMPLA conseguir eleger um líder com o perfil certo – o problema é que o MPLA não define perfis para as diversas funções, fazendo escolhas em função de “ventos” e “estranhas conveniências”, razão das constantes exonerações e nomeações por parte do Presidente da República João Lourenço – capaz de dialogar com a juventude no sentido de se encontrar caminhos para a prosperidade, de forma realista e não populista – não é oferecendo casas à juventude -, talvez os que concordam com Manuel Homem tenham razão.
Porém, o próprio Manuel Homem, enquanto governador, também não se mostra um líder aberto a resolver os problemas dos governados. Não mostra ser um “operário” aberto a críticas e sugestões. Basta ver como reage quando é criticado nas redes sociais (felizmente, aquela pouca vergonha de domingo acabou – ouviu os nossos conselhos?).
Por outro lado, é preciso não esquecer que o MPLA perdeu em 2022 em Luanda, por demérito próprio (já o disse em diversas ocasiões), não para a UNITA mas pela dita “Frente Patriótica Unida”, FPU (UNITA+BD+PRA-JA+Marimbondos).
Não existe intenção de a UNITA se tornar coligação FPU (UNITA+BD+PRA-JA+Marinbondos), porque nós sabemos que a UNITA nunca deixaria a sua marca para trás, pelos valores históricos, o que significa que o Bloco Democrático tem a obrigatoriedade de concorrer sozinho em 2027 para não ser extinto, uma vez que o Tribunal Constitucional extingue partidos políticos que não concorram em dois pleitos consecutivos.
O PRA-JA, se Abel Chivukuvuku entender cumprir finalmente a lei, pode tornar-se oficialmente um partido político até 2027 e concorrer sozinho também. Antevê-se o fim da dita FPU.
Estes três factores podem ser favoráveis para as intenções de Manuel Homem, mesmo que o MPLA não tenha muito mérito na conquista dos corações dos eleitores.
Importa sublinhar, entretanto, que apesar de haver possibilidade de Manuel Homem ter razão, em relação ao “fim da vitória da UNITA em Luanda”, nada garante que seja o MPLA a ganhar em Luanda, em 2027, porque os votos serão divididos e ainda podem surgir partidos políticos ou coligações de partidos políticos que mostrem maior seriedade para os eleitores, já que os tradicionais mostram ter os mesmos defeitos.
E Manuel Homem, tanto nas vestes de governador quanto nas de primeiro secretário provincial do MPLA em Luanda, ainda terá de comer muito “arroz com farinha”.