Há dias, o cidadão Severino Carlos, escreveu o seguinte sobre o jovem Partido CIDADANIA:
“…Por isso lança-se (o MPLA) a criar partidos-satélites e outras formações de faz-de-conta, como é o caso do Partido Cidadania. O seu líder, Júlio Bessa, pode largar verdades aparentemente incómodas contra o sistema, como o tem feito, mas vê-se que no final isso não chega para agitar as águas. Escolhido para esse papel de personagem secundária, o antigo ministro das Finanças, saído do CAP da Maianga, não possui estaleca para com as suas declarações tirar o sono ao Regime”.
Saúdo o veterano jornalista por trazer ao espaço público mais um tema pertinente para debate, o fenômeno dos partidos políticos em Angola, e aproveito a ocasião para contribuir também com a minha opinião do seguinte modo:
1. Angola enquanto país, nasceu em 1975, sem democracia, sem eleições e sem partidos políticos. Os “movimentos de libertação” que proclamaram a independência com o beneplácito da potência colonizadora, não eram partidos políticos no sentido clássico e científico do termo.
Eram organizações guerreiras, exclusivistas e intolerantes. Daí a cultura e prática do fratricídio entre elas, antes e depois da independência. Em 1991, por força da transição constitucional de Angola, as três organizações guerreiras, UPA/FNLA, MPLA/Neto e UNITA, foram obrigadas a se transformarem em partidos políticos. Assim, a primeira organização guerreira, UPA/FNLA, é registada como partido político pela República de Angola em Maio de 1992; a segunda organização guerreira, MPLA, é registada em Julho de 1991; e a terceira, UNITA, em Abril de 1992. Não obstante o PRS em Abril de 1992.
2. Outros partidos, como o PRS, PRD, PDP-ANA, FpD, Nova Democracia e muitos outros, por exemplo, foram registados igualmente em 1992 e depois. No início do século XXI, o país tinha mais de 70 partidos políticos! De facto, todos os partidos políticos angolanos são relativamente novos, quer na sua longevidade, quer na absorção da cultura democrática, quer na prática de democracia interna e externamente. Aliás, a julgar por este último parâmetro, a UNITA só veio a praticar alguma democracia interna no século XXI, após a morte do seu Presidente fundador. A FNLA, teve sérias dificuldades em conformar seu funcionamento interno às regras da democracia. O MPLA, por seu turno, praticou o maior genocídio da história política do país intra muros, em 1977 e, mesmo depois da consagração constitucional da democracia e do Estado Democrático de Direito, nunca realizou um congresso electivo com candidaturas múltiplas nem foi capaz de separar o Partido-Estado que capturou e controla, à margem da Constituição e da Lei.
3. É verdade que, nos últimos vinte anos, muitos partidos em Angola foram criados e financiados pelo regime do Partido-Estado como forma de subverter o regime democrático e reforçar a hegemonia do Partido-Estado. Consequentemente, acirrou-se a descrença dos angolanos nos tribunais que legalizam os “novos partidos” (entenda-se os não guerreiros). Porém, não é justo mensurar a idoneidade de um partido apenas com base na sua data de registo e muito manos com base na proveniência de seus líderes.
4. Parece-me ser mais justo julgar os partidos políticos, não pela sua data de registo, mas pela sua prática democrática, pela sua idoneidade política, “pelos seus frutos”, como ensinou o Cristo no primeiro século DC. Não pelos alegados números de membros que alegam possuir, mas pela contribuição real que dão para o desenvolvimento democrático do País. Nesta base, um partido como o CIDADANIA, fundado em 2023 e registado em 2024, apresenta-se mais democrático do que qualquer um dos partidos fundadores da independência. Porque o CIDADANIA nasceu em democracia, pratica a democracia no seu seio, e parece-me ser o único partido que surgiu com uma Agenda para valorizar a cidadania em detrimento da partidocracia, uma agenda para construir um País novo, em novos moldes, e não apenas para disputar e desfrutar o poder de um país velho, com um Estado falhado, caduco e viciado.
5. Os dirigentes do CIDADANIA, como todos os outros, vieram de algum lado da cidadania, incluindo de outros partidos ou até de movimentos guerreiros. Viriato da Cruz é oriundo da UPA. Holden Roberto também. Agostinho Neto e Lúcio Lara, parece terem vindo do MIA. Jonas Savimbi, veio igualmente da UPA e do MPLA. Abel Chivukuvuku, veio da UNITA. Justino Pinto de Andrade veio do MPLA/Revolta Activa. Filomeno Vieira Lopes, veio do MPLA/OCA. Todos vieram de algum lado. A grande maioria da classe dos jornalistas foi formatada no ambiente do Partido-Estado. As pessoas evoluem. O importante não é o passado, mas como nos posicionamos no presente para a construção do futuro.
6. Angola precisa de novas formas de fazer política. Isto implica não se fazerem afirmações avulsas, sem quaisquer evidências, como afirmar que o CIDADANIA “não passa de um partido satélite”. O CIDADANIA apresenta-se como a força política alternativa, que traz novas formas de actuar e representar o povo. O CIDADANIA vai surpreender, porque é um Partido de causas, comprometido com a realização do Sonho Angolano para todos os cidadãos.
7. O Dr. Julio Marcelino Bessa, enquanto cidadão livre e apenas comprometido com o povo angolano, dispôs-se a dirigir uma força política com base em novos valores e apoiando-se na experiência de quadros experientes que, despidos do partidarismo, pretendem potenciar a meritocracia para valorizar a cidadania. Gente que sabe fazer e que quer fazer. Isto parece ser o que os define enquanto uma agremiação política, ao lermos seus pronunciamentos. Desse modo, é justo afirmar que, “não é pelo facto de se resolver constantemente os problemas com martelo, que todos problemas vindouros serão pregos”. Ou seja, o facto de muitos novos partidos serem braços invisíveis do partido-Estado não quer dizer que todos o sejam. Vamos dar um pouco de tempo ao tempo antes do carimbo “Farinhas do mesmo saco” ou “força auxiliar do regime”.
8. De qualquer modo, há algo de positivo nos escritos do vererano jornalista. Ele foca a sua verve afiada no CIDADANIA, deixando de lado, até de forma suspeita, outras “novas” agremiações, diminuindo sua importância e exibindo um descaso proposital pelas suas respectivas lideranças. Escolheu valorizar apenas Júlio Bessa, o líder do CIDADANIA, com as seguintes palavras: “…O seu líder, Júlio Bessa, pode largar verdades aparentemente incómodas contra o sistema, como o tem feito, mas vê-se que no final isso não chega para agitar as águas. Escolhido para esse papel de personagem secundária, o antigo ministro das Finanças, saído do CAP da Maianga, não possui estaleca para com as suas declarações tirar o sono ao Regime”. De facto, o Partido CIDADANIA e seu líder, Júlio Bessa, podem não ter a “estaleca necessária para tirar o sono” dos dirigentes do Partido-Estado, mas só o mero registo do Partido nos anais oficiais da República foi o suficiente para fazer despertar o veterano jornalista Severino Carlos. Bem Haja!
9. Portanto, saiba que plantas saudáveis também nascem no meio do lixo. E por tudo que nos foi dado ver até agora, o CIDADANIA pretende levar o povo a deixar o “vale da morte” no qual fomos enterrados nos últimos 50 anos, e levá-lo a começar a trepar para a colina onde poderá, finalmente, construir novos olhares para os horizontes nacionais, de modos que consigam despertar a centelha do “sim, é possível” em qualquer cidadão deste país, incluindo nos cidadãos veteranos, jornalistas patriotas, que talvez se tornaram incrédulos de tanto esperarem por quem sempre os defraudou!
Njaka Raekwon