João Figueiredo, natural de Malanje, tem 49 anos, é pai de cinco filhos e condutor de veículos pesados. Com a carta número LD-33769 (ocultamos um dígito para preservar a privacidade), ele percorre diariamente os 430 quilômetros que separam Luanda de Malanje, numa jornada que dura cerca de 6 horas. Tudo isso, para garantir o sustento dos seus filhos de 7, 9, 17 e 25 anos, jovens que não pediram para nascer sob as dificuldades de um pai trabalhador, mas economicamente limitado.
“Se o Ministro do Interior tem mesmo as coisas no lugar, queremos vê-lo acabar com isso”, desabafou João, indignado com as condições das estradas e os desafios impostos pelas autoridades nos postos de controlo: “montados para recolher dinheiro”.
Recentemente, uma reunião entre o ex-ministro do Interior, Eugénio Laborinho, e o actual ministro do Turismo, Márcio Daniel, foi divulgada, com o propósito de reduzir os postos de controlo nas estradas e facilitar o trânsito de turistas. No entanto, para João e outros condutores, a medida parece não ter saído do papel: “ficaram apenas no charme dos sapatos de luxo e dos fios de ouro”, comentou o automobilista, com ironia.
Obstáculos nas estradas
Para transitar nas vias de Angola, são exigidos diversos documentos, tal como: título de propriedade, livrete, licença de aluguer (para carros de carga), seguro actualizado, ficha de inspecção periódica, bilhete de identidade e carta de condução do condutor. Na teoria, com todos esses requisitos em ordem, o condutor deveria estar apto a circular.
Mas, segundo Marcelino Seitas, outro motorista que enfrenta a mesma realidade, a prática é diferente: “Os oficiais nesses postos de controlo, que estão ali apenas para recolher dinheiro, não aceitam nada. Eles encontram problemas em todos os carros, mesmo que a inspeçção tenha sido feita no dia anterior”. Marcelino relatou o comentário de um dos oficiais, que afirmou: “Aqui, nenhum carro está isento de infracção. Todos têm problemas”.
Postos como o da antiga BET, Maria Teresa e a Ponte do 25 são conhecidos entre os condutores pelos abusos cometidos. Joana Rita Teresa, uma comerciante que passa frequentemente por esses locais, desabafa: “Ai, meu irmão… nem vale a pena falar, é uma vergonha”.
O combate à corrupção é só discurso
“A verdade é que o combate à corrupção não existe. Nós, condutores e cidadãos comuns, somos vítimas disso todos os dias”, acrescentou João Figueiredo.
O Comandante Geral da Polícia Nacional de Angola, Francisco Monteiro Ribas da Silva, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Da mesma forma, Manuel Homem mantém-se em silêncio.
FONTE: MAKAMAVULU