Os restos mortais da angolana Aleluia Patrícia Tchiwissa, de 26 anos, aluna do 6.º ano final da Faculdade de Medicina em Santiago, República de Cuba, repousam desde sábado, dia 13, às 13h00, no Cemitério do Benfica, 90 dias após perder a vida (18 de março de 2025) em circunstâncias duvidosas.
POR: MATIAS MIGUEL
A família da falecida queria um relatório plausível sobre as causas da morte, sendo angolana, filha/irmã/prima/colega, enfim, um esclarecimento das autoridades como: Embaixada de Angola em Cuba, Ministério das Relações Exteriores e instituições como PGR e SIC, cujas respostas às cartas enviadas há dois meses continuam por chegar.
“Estamos revoltados com o estado de decomposição em que nos entregaram o cadáver de Aleluia Patrícia Tchiwissa Twemililaty, com hematomas por todo o corpo, a cabeça estava cosida à volta com fios cirúrgicos, dois cortes: Um da mandíbula até ao útero, outro da garganta até ao baixo ventre. Como se não bastasse, introduziram algodão no lugar dos órgãos, fazendo um enchimento para dar a impressão de que os órgãos estavam no respetivo lugar” (a barriga), com lágrimas a cair teimosamente pelo rosto.
Frisou que o cadáver chegou no dia 15 de Abril sem relatório médico, apenas um rabisco num papel manuscrito que alguém escreveu, apontando como causa da morte “edema pulmonar de etiologia”. Noutro esboço, dizia: “não há necessidade de investigar”. Mais adiante, escreveu: “Relatório de necrópsia” (ver foto).
“Somos uma família de médicos, isto não nos convenceu, sugerimos outra autópsia. Foi então que percebemos que nos enviaram apenas a carcaça. Removeram todos os órgãos sem nos consultar, tais como: massa encefálica, órgãos da caixa torácica (pulmões, coração, vasos sanguíneos), diafragma e órgãos abdominais (fígado, baço, rins, intestino delgado e grosso), órgãos genitais (útero, ovários e trompas)”, disse.
Na Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos Humanos, aplica-se aqui a violação dos direitos humanos. No 4.º parágrafo, caso concreto na repatriação de um falecido na diáspora, as famílias têm o direito de receber o corpo inteiro, sem retenção injustificada de órgãos, têm o direito de obter todos os pertences pessoais do falecido, o direito a um funeral digno de cidadãos falecidos no estrangeiro, constitui obrigações fundamentais do Estado, reitera.
O código civil cubano, lei n.º 59/1987, artigo 25, proíbe a retenção indevida de órgãos ou restos mortais, sem consentimento da família, exceto em casos de investigação autorizada. A doação de órgãos deve ser documentada previamente, afirmou.
Na reunião com o embaixador cubano no dia 23 de maio, no Hotel Wassa, ele reconheceu e pediu desculpas, alegando que “apenas despachou o documento enviado a ele sobre o cadáver”, não estava ciente da ausência dos órgãos, prometendo que iria investigar em Cuba.
Nesta reunião, o embaixador levo o relatório da polícia cubana que apontava substância tóxica (droga), o que se opunha ao “papel rabiscado”.
Não há fotos da perícia policial como prova no relatório. Perguntei a razão da remoção e retenção dos órgãos, ele disse que ficaram para exames e que chegariam a Angola em 30 dias. O informamos de que não realizaremos o funeral sem os órgãos, passados os 30 dias, ele (embaixador) nos ligou a dizer que os órgãos tinham sido cremados.
Pertences apreendidos
Três telemóveis, um computador, um conjunto de malas, a agenda ou estão retidos ou em posse da embaixada. A verdade é que não entregaram os pertences no ato da entrega do cadáver, o que é absurdo.
Chantagem
Na Embaixada de Angola em Cuba, um senhor identificado como Azevedo ligava e exigia que enviássemos 10 mil dólares americanos em 8 dias, mais 50 dólares por dia para manter o corpo preservado numa das clínicas, com pena de ver os restos mortais da nossa ente querida serem cremados, tivemos de enviar os 10 mil dólares.
Amiga fecha-se em copas
Júrcia Armando, residente em Havana, a amiga que acolheu a falecida, é a principal suspeita de envolvimento na morte de Aleluia Patrícia, sendo considerada a mensageira do “diabo”.
“Sr. Jornalista, repare que Aleluia, ao sair de Santiago, passou por Havana, em casa da amiga Júrcia Armando, onde encontra a morte no dia 18/03/25. A mãe falou com a Aleluia pelo telemóvel da amiga três dias antes, e terá dito que o seu aparelho foi roubado.”
Segundo Maria Tchiwissa, a mãe soube da morte da filha no dia 19 de Março às 07h00, através do senhor Ginito Zeca, residente em Luanda, que se identificou como marido de Júrcia Natividade Kalupeteca, que reside em Havana, embora ela assine como Júrcia Armando, pedindo-me para ligar para ouvir a minha filha.
“Feita a chamada, do outro lado da linha, Júrcia pediu desculpas, dizendo: ‘Desculpe, tia, não consegui cuidar da sua filha.’ ‘Como ela morreu?’ ‘Sim, morreu, caiu de costas aqui em minha casa, está aqui no chão, à espera da polícia.'”
“Como estávamos em videochamada, pedi-lhe que virasse a câmara para o corpo, o que ela recusou categoricamente. A partir desse dia, Júrcia desligou o telemóvel, cortando o contacto.”
Cinco dias depois, reparei numa publicação que viralizou nas redes sociais em Cuba, relatando como a minha filha foi assassinada.
Júrcia foi apontada como a principal suspeita. Ao enviar o vídeo ao senhor Ginito Zeca, acabei por ser ameaçada de morte, caso continuasse a pensar de outra forma.
“Tudo o que queremos é saber as razões deste crime hediondo, assassinato, supostamente tráfico de órgãos humanos, pedimos que se faça justiça, de forma a aliviar-nos deste pesadelo”, disse o pai da falecida, revoltado com a fraude em torno da morte da filha.
À Lupa do Crime
Na Lente do Crime, ouviu um médico que não quis ser identificado: “O corpo estava deformado, com marcas de alguém que lutou muito até ser sufocado. Isso cria a maior suspeita. O diagnóstico que apresentaram é desnecessário quando dizem que a causa foi edema no pulmão. Se fosse no pulmão, retirariam apenas o pulmão e não todos os outros órgãos. Edemas no pulmão são doenças que levam à morte de pessoas após cinco anos ou mais, não de forma imediata. Isto é um crime, e a omissão da verdade, de Cuba a Luanda, só duplica as suspeitas.
Aliás, o senhor Azevedo, da embaixada, citado aqui, impediu o meu primo médico de observar o corpo no dia seguinte ao assassinato.”
Contraditório
Júrcia Armando diz que só falará na presença dos pais e avós da falecida. O marido nega as acusações.
As investigações do NLC continuam, aguardando a resposta do Embaixador de Cuba em Angola e do Ministério das Relações Exteriores, contactados no dia 17/06/25 às 11h00 e 12h00, que prometeram pronunciar-se nos próximos dias.